terça-feira, 6 de julho de 2010

O que precisamos para conter a violência?

Não é coisa de filme, nem um problema restrito aos morros cariocas. Chegou até aqui, vivemos dias de criminalidade intensa, de hostilidade e medo. Dia após dia temos visto nos noticiários histórias nefastas de crimes que se superam. Somos uma sociedade encurralada pela violência que assoma dos lares, que invade as ruas, que não poupa aqueles que buscam uma vida correta.
Houve um tempo que podíamos pensar que aqueles que não devem não precisam temer, que tiros e assassinatos atingiam apenas aqueles que se envolviam com jogos, vícios, com o cônjuge alheio. Chegamos a pensar que aqueles que andavam direito estavam seguros. Mas a experiência tem mostrado que não é mais assim. Temos inocentes provando que qualquer um pode ser vítima. A advogada que entra numa rua errada e acaba morta por ladrões que queriam seu carro, o estudante baleado na saída do cinema, a publicitária assassinada ao sair para a palestra na faculdade, as irmãs brutalmente violentadas à caminho da escola— exemplos que atestam que é preciso fazer algo, urgente, para que o mal não nos faça a todos reféns.
Estamos nos dirigindo para tempos de terror se a omissão das autoridades continuar corroborando a ação dos bandidos. O tráfico de drogas por exemplo parece se multiplicar com seus efeitos destruidores e o que é feito? Não existe preocupação em reforçar a fiscalização de nossas fronteiras e parece também não haver reflexão sobre um dos erros mais gritantes dos últimos tempos: ao se livrar de culpa penal aquele que usa drogas, o legislador acabou tornando mais fácil a tarefa do traficante. Não é crime usar, como conter o consumo então?
Assisti a uma matéria em que uma menina contava que perdia a razão quando tinha vontade de usar o crack. A menina de 12 anos ficava cega e não media nada para conseguir acesso à droga. Podia espancar a avó, única pessoa que ainda cuidava dela, podia se prostituir, podia roubar, matar. Diante da voracidade destruidora do vício, nenhum amparo. Não existe centros disponíveis e habilitados para a desintoxicação e a remissão desses jovens. A maioria está fadada a matar ou morrer pelo veneno que os tira da realidade.
É para comprar droga, ou para simplesmente ter um ganho fácil, que meninos se tornam ladrões e matam em troca de trocados. O carro da advogada morta em Goiânia seria vendido por uma bagatela e alimentaria uma rede criminosa que funciona como uma empresa com vários segmentos. A vida fácil, a ociosidade, a esperteza levada às últimas consequências roubaram uma mãe da convivência com sua filha.
A droga é um fator presente na maioria dos crimes que nos chocam. Filhos embriagados são capazes de se voltarem contra mãe e pais num momento de fúria. País drogados ou bêbados podem destruir a própria prole num instante de delírio. O Estado erra ao não levar as questões do tráfico com medidas mais enérgicas. As autoridades de segurança precisam se dedicar mais ao tema, não apenas com serviços que enxugam o gelo sem eficiência mas com a criação de programas amplos e completos de erradicação do tráfico e do crime organizado.
Claro que há crimes em que não existe relação com o tráfico, mas em todas as grandes tragédias existe omissão de quem deveria vigiar. Psicopatas existem em todos os lugares, pobres e ricos, mas o estupro das duas irmãs, que acabou na morte de uma delas poderia ter sido evitado se houvesse uma legislação sintonizada com a realidade. Aquele homem que confessou o crime estava preso. Já era pra ser um problema resolvido pela sociedade. Porém o dispositivo da liberdade condicional, que até pode funcionar em alguns casos, não deveria ser usada para criminosos do tipo que despreza a vida, que mata por prazer. Estupradores, pedófilos, latrocidas são pessoas que só um milagre muda. Três anos de cadeia, cem anos de cadeia, não mudam o que é do caráter desses criminosos. É ridículo uma lei que considere que um estuprador tenha direito a um regime semi aberto. Como se ele oferecesse risco apenas a noite, como se não fosse um maníaco à luz do dia.
Várias vítimas foram abusadas por aquele homem. Além das irmãs, uma mãe também teve a vida interrompida porque aquele monstro a baleou na cabeça. Situações que poderiam ter sido evitadas! Vidas que poderiam ter sido poupadas com uma revisão de uma lei que já não convence ninguém.
Nesses casos porém, ainda houve solução. O criminoso voltou a ser preso. E o que dizer do sofrimento da família de Polianna Borges que ainda nem sabe porque a publicitária morreu e quem a matou? A inteligência do Estado, as forças policiais mostraram-se totalmente ineficazes na descoberta dos assassinos. Se estão mortos ou vivos, quem pode dizer? E se estiverem por aí, fazendo novas vítimas? A família da vítima tem direito à uma explicação e todos nós temos o direito à segurança.
Sem solução apropriada dos casos, sem pena devida aos criminosos, sem responsabilização adequada, os bandidos se encorajam se tornam ameaças maiores. Sem leis severas e sem um sistema eficaz de apuração e responsabilização, até jovens que deveriam ser cumpridores de seus deveres tornam-se atiradores, miram um adolescente aleatoriamente e podem matá-lo por brincadeira, simplesmente porque apostam na impunidade.
É época de eleição e temos que fazer o assunto Segurança pautar os debates de nosso candidatos. Serra, Dilma e Marina, que são os três principais postulantes à Presidência da República precisam expor o que pensam sobre o assunto, quais as soluções propostas.
A saída é promover uma revisão das leis? A saída é unificar as polícias, integrando-as em todo o país e ampliando assim a rede de inteligência? Melhoraria a situação se o policiamento das fronteiras fosse intensificado? Existem modelos no mundo que podem ser copiados com sucesso?
São perguntas que nós devemos fazer e para as quais exigimos respostas de especialistas e propostas governamentais.
Houve um tempo em que ligamos à criminalidade à miséria. Hoje, vencemos muito da miséria que nos assustava mas encontramos outros monstros. A violência, repito, não se recolhe às favelas — está nos bairros nobres, passeia nos shoppings, espera em ruas erradas e em avenidas movimentadas, dorme nas casas das famílias ricas e das famílias pobres. A violência precisa ser combatida como um problema nacional, como uma doença que se não for enfrentada e controlada, progride e pode fazer a nação sucumbir.


César Augusto Machado de Sousa é Apóstolo, Escritor, Radialista, e Presidente da Igreja Apostólica Fonte da Vida. Escreve todas as terças-feiras para o DM. E-mail apostolo@fontedavida.com.br

Fonte: http://www.fontedavida.com.br/novo/index.php?area=mostra_artigo&idn=63&O%20que%20precisamos%20para%20conter%20a%20violência?

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